Alaxendro Rodrigo Dal Piva
A
governança corporativa e a gestão financeira são elementos essenciais na
sustentabilidade e no sucesso das organizações modernas. O administrador
financeiro desempenha papel estratégico na interligação entre finanças, ética e
governança, promovendo transparência e equilíbrio nas decisões empresariais.
Em um
ambiente de negócios cada vez mais dinâmico e globalizado, compreender a
integração entre essas áreas é fundamental para alcançar resultados duradouros
e responsáveis.
O
administrador financeiro contemporâneo vai além das funções técnicas de
controle de custos e elaboração de relatórios. Ele atua como gestor
estratégico, responsável por planejar, monitorar e otimizar o uso dos recursos
financeiros, alinhando-os à estratégia organizacional.
Segundo
Assaf Neto (2020) e Chiavenato (2022), a função do administrador financeiro
evoluiu de uma postura operacional para uma atuação de liderança, pautada na
análise de riscos, inovação e geração de valor sustentável.
A) Conceito de Governança Corporativa:
A
governança corporativa é o sistema que orienta e controla as empresas,
definindo as relações entre acionistas, conselhos e executivos. Busca garantir
transparência, equidade e responsabilidade, princípios indispensáveis à
confiança dos investidores e da sociedade.
De acordo
com Chiavenato (2022), ela consolida o equilíbrio entre poder e
responsabilidade, reduzindo riscos e promovendo uma gestão ética e eficaz.
B) Histórico da Governança Corporativa:
O conceito
ganhou força nas décadas de 1980 e 1990, impulsionado por escândalos
financeiros e pela necessidade de transparência nas corporações. No Brasil, o
Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), criado em 1995, foi o
principal agente de difusão das boas práticas.
Internacionalmente,
a governança foi consolidada após casos como Enron e WorldCom, que motivaram a
criação da Lei Sarbanes-Oxley (2002), marco regulatório que reforçou a
responsabilidade dos gestores.
C) Fraudes e Escândalos que Impulsionaram a Governança:
Casos como
Enron (2001), WorldCom (2002) e Parmalat (2003) evidenciaram falhas éticas e
fraudes contábeis, levando ao colapso de grandes empresas. No Brasil, episódios
como Banco PanAmericano (2010) e Petrobras (2014) reforçaram a importância de
auditoria, compliance e governança.
Esses
escândalos revelaram que a ausência de controle e ética pode comprometer não
apenas empresas, mas a confiança no sistema econômico.
D) Impacto da Governança na Gestão Empresarial:
A
governança transformou profundamente a gestão das organizações. Hoje, conselhos
de administração têm papel ativo na tomada de decisões e na fiscalização da
diretoria executiva. Empresas que adotam boas práticas de governança demonstram
maior estabilidade, transparência e desempenho financeiro.
Segundo o
IBGC (2023), a governança é um diferencial competitivo que fortalece a
reputação e a atratividade para investidores.
E) Governança em Empresas Públicas:
As
empresas estatais também passaram a adotar mecanismos de governança,
principalmente após a Lei das Estatais (Lei nº 13.303/2016). Essa legislação
instituiu critérios técnicos para nomeação de dirigentes e exigências de
transparência e compliance.
Embora
ainda haja desafios, órgãos como TCU e CGU vêm ampliando o monitoramento das
práticas, e exemplos como Petrobras e BNDES mostram avanços significativos na
governança pública.
F) Princípios da Governança Corporativa segundo a OCDE (1999):
A OCDE
definiu princípios universais de governança: transparência, equidade e
responsabilidade dos conselhos. Esses fundamentos norteiam as decisões
corporativas e orientam boas práticas de gestão. São eles:
1)
Divulgação de informações claras e tempestivas;
2)
Tratamento igualitário a todos os acionistas;
3)
Prestação de contas e responsabilidade ética dos conselheiros e executivos.
G) Pilares da Governança Corporativa:
De acordo
com o IBGC, quatro pilares sustentam a governança: transparência, equidade,
prestação de contas e responsabilidade corporativa. Tais princípios são a base
para decisões éticas e estratégicas, que equilibram o retorno financeiro com o
compromisso social e ambiental.
Quando
esses pilares são aplicados, a governança se torna parte da cultura
organizacional e não apenas um requisito legal.
H) Boas Práticas de Governança Corporativa:
Boas
práticas incluem a criação de conselhos independentes, auditorias externas,
comitês de risco, compliance e planos de sucessão executiva.
Conforme
Assaf Neto (2020), a aplicação de tais práticas contribui para a valorização da
empresa, a confiança dos investidores e a perenidade dos negócios. A governança
eficaz, aliada à boa gestão financeira, aumenta a competitividade e reduz o
custo de capital.
I) Caso Enron – “Os Mais Espertos da Sala”:
O colapso
da Enron é o maior símbolo de falha na governança. A empresa mascarava
prejuízos e inflava lucros com manipulação contábil, levando à falência e à
perda de milhares de empregos.
O caso
inspirou reformas e gerou a Lei Sarbanes-Oxley, reforçando a ética e a
responsabilidade nos relatórios financeiros. O documentário “Enron: The
Smartest Guys in the Room” (2005) evidencia como a ausência de transparência
destrói valor e confiança.
J) Perfil do Administrador Financeiro:
O
administrador financeiro moderno é um estrategista que alia técnica, ética e
visão sistêmica. Ele deve compreender o ambiente econômico, dominar ferramentas
de análise financeira e incorporar princípios de governança à sua atuação.
Segundo
Assaf Neto (2020), seu papel é garantir a solidez financeira e promover
decisões que equilibrem lucro, sustentabilidade e integridade. Esse
profissional é vital para unir finanças, governança e propósito corporativo.
Considerações
A
integração entre governança corporativa e gestão financeira representa o novo
paradigma da administração moderna. O administrador financeiro, quando atua com
ética e visão estratégica, torna-se agente de transformação e sustentabilidade.
Governança,
transparência e responsabilidade são hoje os alicerces de empresas que buscam
longevidade e reputação sólida em um mercado competitivo e global.
REFERÊNCIAS
ASSAF NETO, A. Finanças corporativas e valor. São Paulo: Grupo GEN,
2020.
CHIAVENATO, I. Gestão financeira: uma abordagem introdutória. São Paulo: Grupo
GEN, 2022.
IBGC. Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa. 6ª ed. São Paulo:
IBGC, 2023.
OCDE. Princípios de Governança Corporativa. Paris: OECD, 1999.
AFYA. Percurso de Aprendizagem – Gestão Financeira: O Papel de Finanças, do
Administrador e da Governança Corporativa. Unidade 1. Pato Branco: Afya
Educacional, 2025.
Documentário: ENRON – The Smartest Guys in the Room. Direção: Alex Gibney. EUA:
Magnolia Pictures, 2005.